Opinião

Foi bom pra ti, Venezuela?

Por Eduardo Allgayer Osorio
Engenheiro Agrônomo, Professor Titular da UFPel, aposentado

Em dezembro último o chavismo completou 25 anos governando a Venezuela. Contrapondo-se à política que dominava o país por quatro décadas, em 1998 Hugo Chávez elegeu-se presidente. Com o petróleo em alta no mercado internacional, a Venezuela, que tem a maior reserva petrolífera do planeta, vivia numa situação econômica favorável. Adotando uma política de ampliar a distribuição das receitas do petróleo, Chávez conquistou uma enorme popularidade. O número de pobres caiu e a mortalidade infantil foi reduzida.

Neste cenário otimista, um grande equívoco de Chávez foi não usar as riquezas do petróleo que exportava para diversificar a economia nacional. Continuou importando tudo. Outro erro capital foi estatizar as empresas venezuelanas que, administradas por apoiadores ideológicos ineptos, perderam competitividade. A produção nacional caiu drasticamente, inclusive na estatal petrolífera PDVSA.

Falecido em 2013, Chaves foi sucedido por Nicolás Maduro, que seguiu com a mesma "política bolivariana". Mal administrada e sucateada, a estatal PDVSA produzia cada vez menos petróleo. E o golpe fatal veio com a desvalorização dessa commodity no mercado internacional (o preço do barril caiu de US$ 112 para US$ 48). Com menos ingresso financeiro e totalmente dependente das importações, a crise do abastecimento tornou-se permanente, faltando tudo, desde remédios e alimentos até papel higiênico. A Venezuela "quebrou".

Sem o apoio popular, para manter-se no poder começou a atacar as instituições nacionais. Aumentou o número de juízes do Supremo Tribunal de 20 para 32, nomeando 12 defensores do seu governo (no Brasil o STF, também aparelhado, tem sete dos seus onze ministros indicados pelo mesmo partido político). Visando enfraquecer o Poder Legislativo convocou uma Constituinte, para a qual a oposição não apresentou candidatos alegando cambalacho eleitoral. Para controlar a dissidência política encetou forte repressão aos opositores, com perseguições, prisões e violações aos direitos humanos.

Disposto a manter-se governando sem o apoio da sociedade, recorreu às Forças Armadas, promovendo 17 mil oficiais a cargos superiores, dois mil deles para a patente de General (o Brasil tem 300 oficiais nessa patente), consolidando uma elite militar com enorme poder político que ocupou todos os ramos da administração pública. Corruptos como eram enriqueceram com os negócios de Estado, que administram com um desempenho lastimoso. Para conter as manifestações populares, Maduro instituiu as Milícias Bolivarianas, um violento exército político de 400 mil correligionários treinados pelos cubanos para "silenciar os inimigos da revolução bolivariana".

Segundo o Banco Mundial, a deterioração econômica e social havida levou 96% da população à pobreza (vivem com menos de 3,2 dólares por dia), três quartos deles em extrema pobreza (menos de 1,9 dólares/dia). O salário mínimo, de 130 mil bolívares (equivale a 27 reais) compra um quilo de peito de frango ou duas dúzias de ovos ou três litros de leite. A média de peso corporal dos venezuelanos diminuiu onze quilos. De cada três crianças, uma padece desnutrição grave. O país, que já foi o mais rico da América Latina, atingiu uma situação de extrema miséria, sem paralelo mesmo nas mais pobres nações africanas. Em decorrência, o êxodo de venezuelanos para outros países já se aproxima de dez milhões de migrantes.

O que assusta é quando vem à mente a frase daquela propaganda de vodca: "Eu sou você amanhã".

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